A VIDA E O CALENDÁRIO | Relação de outros carnavais

Agora já não é novidade que o Carnaval foi cancelado. Em função da pandemia, as pochetes, o glitter e a música alta mudaram de data (e de cor) neste ano. Com certeza ou não, nem imagino no que a data pode ter se transformado. Em tempos de pandemia, quem tem consciência é rei.

Lembro-me bem de quando o Covid-19 era só um vírus que “estava na Europa”. Voltando de São Paulo, a movimentada estação da Barra Funda me deu a oportunidade de me informar. “Já morreram mais de mil”, “Isso é coisa de político, não vai dar em nada”, “Não é do jeito que estão falando”. Com a cabeça na janela do ônibus, mal sabia que essas “notícias” poderiam dar um samba-enredo de 2020.

Isolamento, máscara de proteção, álcool em gel, distanciamento e aglomeração já são sílabas que soam como apitos no comando de uma bateria furiosa que passa por uma avenida sem fim. De tudo o que vivemos, a renovação dos espaços da casa e da rua foram o que ficaram em nós. Deu muito bem para pensarmos o que fomos, somos e seremos: a causa de muitos efeitos (bons e ruins, vale dizer).

Neste trio elétrico de transformações, até a rigidez de um calendário foi afetada. Quem iria imaginar que a tradição de um feriado fosse abrir alas para um vírus com uma apuração tão demorada? No quesito harmonia, a nota foi bem baixa.

Nunca tinha parado para pensar em como uma folha de papel em branco (agendas e planners entram nessa seara) pode controlar o que temos de precioso: o tempo. É certo que o calendário cristão foi instituído há tempos e que suas tradições já se enraizaram em nossas vidas e culturas. O que a Ciência prova em rotas da Terra em torno de seu próprio eixo, a incerteza e o medo esfarelam 24 horas nas mãos até que suas causas sejam descobertas para amenizar seus efeitos.

De tudo o que vivemos até aqui, o que nos resta é a esperança de dias melhores. Mesmo assim, ainda me questiono: é cedo para sermos otimistas em 2021?

Do barulho e do calor que os blocos deixaram nas ruas, a folia dos confetes ainda é uma imagem nítida para mim. Em meio a um sopro de esperança e brilho para hoje, a firmeza do chão é o que mantém nossos pés firmes rumo ao futuro. Com melodias nostálgicas e pesares nos olhos, a alegria de um passado recente de bloco passa, embala e transforma ruas, esquinas e avenidas de nossas vidas.

Ivan Reis é graduado em Letras, especialista em Literatura e mestre em Linguística Aplicada. Atua como revisor e preparador de texto, mas gosta mesmo é de ler, escrever e tomar sorvete nas horas vagas. E-mail: ivan.reis@hotmail.com

1 comentário

  1. Caro Ivan, é sempre agradável ler suas crônicas. Uma escrita crítica e leve ao mesmo tempo. Parabéns pela reflexão momesca. E que chegue logo o “Abre Alas que eu quero sair”. Bjs

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